Quantas montanhas há na Serra do Espinhaço?

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A Serra do Espinhaço é uma importante cadeia de montanhas que corte o Brasil Central de Norte a Sul entre os Estados da Bahia e Minas Gerais e em diversos pontos apresenta cumes que ultrapassam os 2 mil metros de altitude que os coloca entre os mais altos do Brasil.

No entanto, nem todos os cumes, por mais altos que possam ser, são considerados montanhas, pois como montanha entendemos como sendo uma forma de relevo com grande desnível topográfico e muitas vezes, cumes que atingem grandes altitudes podem ser pequenos ressaltos topográficos em meio a planaltos, ou mesmo picos ou agulhas que apresentam um lado escarpado, mas um reverso conectado por uma crista elevada que confere baixa proeminência a tal cume, fazendo que o mesmo seja um morro, ou até mesmo um sub cume de outro maior.

Este artigo tem com objetivo identificar as montanhas que sobrepassam os 2 mil metros na Serra do Espinhaço usando critérios objetivos, técnico e científicos. Destes critérios, um dos que iremos utilizar é o da Proeminência Topográfica, que de acordo com o geomorfólogo José Teixeira Guerra em seu Dicionário Geológico Geomorfológico, são necessários 300 metros de proeminência para que uma elevação seja considerada montanha.

Por outro lado, há o Índice de Dominância, que mede a porcentagem de destaque topográfico de uma montanha em sua região. Ele é calculado dividindo a proeminência pela altitude do cume e multiplicando por 100. O resultado é a porcentagem de destaque e por convenção, é considerado montanha quando a elevação tem 7% de dominância. Este critério é muito mais justo, pois o critério da Proeminência é injusto para montanhas de baixa altitude, onde 300 metros é muito e para montanhas de grande altitude, onde 300 metros é muito pouco. Para entender melhor este conceito veja o artigo abaixo:

O que faz uma montanha ser uma montanha? O índice de Dominância

As Montanhas da Serra do Espinhaço

Pico do Sol 2072

O Pico do Sol é a montanha mais alto da Serra do Caraça, um bloco montanhoso que pertence ao Espinhaço e que fica próximo ao município de Catas Altas, a Leste de Belo Horizonte.

A montanha pai, do Pico do Sol é o Pico da Bandeira, localizado 175 quilômetros a Leste em linha reta do Caraça. Como ambas montanhas são banhadas pela bacia do Rio Doce. Uni as cristas dos divisores de águas desta bacia e encontrei seu ponto mais baixo na altitude de 760 metros numa cumeeira próxima à cidade de Ubá e considerei este o colo entre o Espinhaço e o Caparaó.

Com esta informação em mãos, calculei que o Pico do Sol tem uma proeminência de 1312 metros e 32% de dominância.

Pico do Sol visto do cume do Pico do Baiano. Foto Pedro Hauck

Pico do Inficionado 2068 metros

Outra montanha na Serra do Caraça é o Pico do Inficionado. Separado do Pico do Sol através de um colo a 1724 metros de altitude, tem 344 metros de proeminência e isso por si já lhe reservaria o status de montanha independente. Porém, além disso, é uma montanha com 16,63% de dominância.

Pico do Inficionado. Fonte Wikipedia

Pico do Itambé 2052 metros

O Pico do Itambé é uma montanha menos conhecida no Espinhaço, localizada próxima a Diamantina. Encontrar um colo entre esta parcela da Serra do Espinhaço e a região de Belo Horizonte foi uma tarefa difícil.

Observado o divisor de águas entre a bacia do São Francisco e a do Rio Doce, enfim encontrei em uma sela que é o ponto mais baixo entre a região da Serra do Cipó e o Caraça, que é exatamente por onde a rodovia BR381 cruza o Espinhaço, unindo Belo Horizonte a Vitória. A altitude do colo é de 950 metros, o que mostra como o Espinhaço é em quase toda sua extensão é muito elevada.

Através destas informações, medi a proeminência do Itambé, que é de 1102 metros, o que lhe conferiu dominância elevada de 53,7%. Montanha sem sombra de dúvida.

O Pico do Itambé Segundo Spix e Martius, Serro, MG (Fonte: Divulgação)

Pico do Barbado 2033 metros

Em sua extensão norte, o Espinhaço volta a encontrar uma altitude superior a 2 mil metros no Pico do Barbado, próximo à Chapada Diamantina na Bahia. Por sua altitude, o Barbado é a montanha mais alta do Nordeste.

O colo entre o maciço do Barbado e o resto do Espinhaço é um pediplano que atinge a altitude de 530 metros próximo à vila de Itanagé-BA. Portanto, o Barbado tem uma enorme proeminência de 1503 metros e dominância de respeito, 73,93%.

O Pico do Barbado é o arredondado no centro da imagem. Foto de Orlandinho Barros.

Não são montanhas no Espinhaço

Pico do Baiano 2016 metros

O Baiano impressiona por sua enorme parede vista desde a Morro da Água Quente. Aliás, uma parede cheia de vias de escaladas maravilhosas, como a Obra do Acaso.

No entanto, atrás de seu cume, há um vale que o separa do Pico do sol, aonde há uma sela na cota dos 1940 metros de altitude, dando uma proeminência baixa a este cume de cerca de 50 metros apenas. Esta pequena proeminência,  faz que o Pico do Baiano seja um sub cume do Pico do Sol.

Pico do Baiano. Foto Pedro Hauck.

Conclusões

A Serra do Espinhaço, junto com a Serra do Mar e a Mantiqueira é das mais extensas cadeias de montanhas do Brasil. Com cumes alinhados, geologia diversa, sem dúvida que há milhares de montanhas nesta região. Porém apenas 4 com mais de 2 mil metros, sendo metade no mesmo maciço, o Caraça.

A grande distância entre as montanhas permite que no Espinhaço, 3 das 4 que tem mais de 2 mil metros de altitude apresentem uma porcentagem de dominância altíssima. O Pico do Barbado na Bahia é sexta montanha com maior dominância no Brasil. O Itambé, a décima segunda e o Pico do Sol o vigésimo.

Estes números são decorrentes pelo isolamento destas montanhas em relação à suas montanhas pais (montanhas imediatamente maiores) e é sinônimo de destacamento na paisagem, que infelizmente não recebe o merecido destaque devido suas baixa altitudes. Isso só mostra que altitude não é o que faz uma montanha ser uma montanha.

Infelizmente, como a lista do IBGE apenas leva em consideração a altitude do cume, estas enormes montanhas estão de fora do Anuário Estatístico Brasileiro. Este fato reforça meu apelo para que o IBGE mude o conceito de sua lista e passe a divulgar uma lista de montanhas através do conceito de Dominância, muito mais coerente com a realidade do relevo e a percepção das pessoas.

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Sobre o autor

Pedro Hauck natural de Itatiba-SP, desde 2007 vive em Curitiba-PR onde se tornou um ilustre conhecido. É formado em Geografia pela Unesp Rio Claro, possui mestrado em Geografia Física pela UFPR. Atualmente é sócio da Loja AltaMontanha, uma das mais conhecidas lojas especializadas em montanhismo no Brasil. É sócio da Soul Outdoor, agência especializada em ascensão em montanhas, trekking e cursos na área de montanhismo. Ele também é guia de montanha profissional e instrutor de escalada pela AGUIPERJ, única associação de guias de escalada profissional do Brasil. Ao longo de mais de 25 anos dedicados ao montanhismo, já escalou mais 140 montanhas com mais de 4 mil metros, destas, mais da metade com 6 mil metros e um 8 mil do Himalaia. Siga ele no Instagram @pehauck

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