O Jamil Cachorrão não se destacava pela sutileza, era turrão e determinado prá além da conta e raramente se contentava com objetivos fáceis. Foi assim com a Crista do Ferraria que já havíamos enfrentado anos antes, mas entre subir no peito e abrir uma picada existe grande diferença. Por detrás de uma couraça protetora existia uma alma frágil na sua incessante busca por calor humano, tinha prazer em dividir suas emoções com quantos se interessassem nelas. Abrir uma picada naquela quiçaça do inferno e equipar com cordas fixas os lugares mais expostos demonstra claramente um desejo consciente de compartilhar dos caminhos com todos, independente de nível técnico. Bastava vontade e entusiasmo para enfrentar o perrengue que ganhava o direito de participar da brincadeira e desfrutar de vistas inusitadas.
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Confesso: até pouco tempo atrás eu tinha muito receio de fazer trilha na Serra do Mar paranaense. Primeiro porque eu sei que são trilhas que me colocam (bem) fora da minha zona de conforto (vegetação densa, trilha fechada, sobe e desce por rios, escalaminhada em árvores e afins, lama, planta enroscando em tudo, etc). Segundo, porque o Soto adora aquele lugar, e isso é sinal de que é ainda mais perrengue. Fato é que eu ainda não tinha feito nenhum treino de cargueira esse ano, e estava a fim de fazer algo realmente desafiador em todos os sentidos. Quando comentei do feriado com o Jorge, já imaginava que ele fosse pra esses lados, mas preferi não perguntar qual exatamente seria a trilha. O que ele disse é que era perto de Curitiba, e com o pessoal do Alta Montanha. Ou seja, perrengue!
Receita: Sangue no zóio, olhar de falcão e convívio harmonioso com carrapatos. Facão bem afiado, mochila, bota e equipamento bem surrado.
Entre os dias 28/06 e 07/07 de 2012, Elcio Douglas Ferreira e Jurandir Constantino encararam o maior desafio de suas vidas e certamente entraram na história do montanhismo brasileiro, realizando a maior travessia entre montanhas do país: 44 cumes e 100 km de trilhas na Serra do Mar paranaense.
A Serra da Farinha Seca é a imponente cumeada visível de quem desce a Estrada da Graciosa, famosa vereda de paralelepípedos q interliga o planalto curitibano ao litoral. Com 16kms verdejantemente escarpados q se espicham a partir do Morro Mãe Catira e findam nos contrafortes abruptos e verticais no Morro da Balança, a visitação da Farinha Seca é rara, senão inexistente, por vários motivos. Não bastasse o terreno acidentado, seus cumes desprovivos de mirantes e repletos de vegetação agreste, suja, rija e espinhenta fizeram com q apenas recentemente a travessia completa destas cristas fosse realizada. Isso após 17 árduas investidas q cobraram inclusive uma vida. Este é o relato fiel da nossa incursão pelos quase onze cumes que integram esta nova travessia, neste rincão intocado, selvagem e pouco conhecido inclusive no sul do país.
*02 de Julho de 2012 Segunda-feira 6:30h* Durante a noite varias vezes acordei com luz da lua furando a mata, cada vez mais baixa, caindo a oeste. Agora finalmente os primeiros sinais dum novo dia. Me sentia muito bem em estar ali. O agudo do cotia sempre foi uma montanha que me atraiu. Talvez por ser como ela é, tão distante e inacessível. Não menos a travessia até a graciosa. Este dia prometia tudo isso, e acima de tudo, o fim da primeira e mais longa etapa. Isso era inspirador, e sem conseguir me conter, novamente fiz baderna no acampamento, e logo todos estavam afim de me matar.
Quem trafega pela Rio-Santos não deixa de reparar num enorme domo granítico, cujo perfil arredondado sobressai elegantemente da escarpa serrana, entre Bertioga e Guaratuba. Este maciço, situado em propriedade da Sabesp, é 100m maior q o Corcovado de Ubatuba e atende pelo nome de Pedra da Boracéia, embora locais a apelidem de Pedra Queimada. Independente de nomemclatura, seu cume é acessível de duas formas, ambas por trilha tão tortuosa qto duvidosa: pelo litoral, dias a fio; ou abreviando trajeto do próprio planalto, partindo dum braço da Repr. Ribeirão do Campo e c/ permissão do proprietário. Bem, isso em tese. Este é o relato da (re)conquista dos 1270m do seu topo saindo de Salesópolis mediante 3 dias de intensa caminhada, cuja picada de aproximação e dificuldades não devem nada a expedições andinas experientes. Vara-mato, mosquitos, travessia de rio e escalaminhada selvagem pra ninguém botar defeito são alguns dos perrengues garantidos, porém recompensado com visus e emoções reservadas a aventureiros contados numa mão só.
Montanha imponente que se destaca soberana na paisagem de quem trafega pela BR-376, na divisa PR-SC, a Pedra Branca de Araraquara só é comparável ao Corcovado de Ubatuba (SP) e a Pedra do Frade (RJ) em beleza, grandiosidade e proximidade ao mar. Contudo, difere destes picos apenas por ser um maciço desgarrado do planalto e não ter um topo rochoso ou descampado. Ainda assim, as características da conquista dos 1230m de seu escarpado cume são bem similares a estes picos mais notórios. Pernada curta, porém exigente e pouco freqüentada, este majestuoso maciço pode ser vencido até mediante árduo bate-volta. Ou fazer quiném a gente: utilizando dois dias com pernoite no alto, saboreando sem pressa suas largas vistas e vastos horizontes, q se estendem desde a Baia de Guaratuba até a enorme muralha da Serra do Quiriri.
O Paulo Marinho preferiu fotografar passarinhos em outra freguesia, mas o Moisés Lima aceitou o convite de imediato e no sábado nos encontramos num estacionamento na Av. das Torres. De Ponta Grossa vieram a Berenice e o Shyguek e para minha surpresa lá estavam também o Pedro Hauck com a Camila. Embarcamos todos na Kombi pilotada pelo Sr. João e descemos para Garuva numa bela e quente manhã de sol com céu totalmente limpo. Viaja de Kombi quem não tem pressa nem opção e as 11:30 horas descemos no oleoduto da Petrobrás depois de cruzar o Rio São João.
Já havíamos feito três incursões à trilha do Marco 22, cada vez descobrindo um pedaço maior da trilha. Na terceira, eu e o Joel chegamos ao imponente Salto Mãe Catira, subimos a encosta e fomos parar em cima do cânion de diabásio. Na quarta-feira anterior ao fim de semana combinado para a travessia, fomos ao Clube Paranaense de Montanhismo para assistir a uma palestra do veterano Henrique (Vitamina) Schmidlin sobre a história da Serra da Prata. Lá perguntei ao Julio Fiori, que já fez a travessia algumas vezes, qual era a melhor maneira de transpor o Salto Mãe Catira. Ele respondeu à pergunta e teceu uma preciosa lista de dicas que seriam essenciais para a travessia. A partir daí só dependíamos de bom tempo e “sangue no zóio”.